Ciclo reprodutivo
No caso das aves não podemos
falar em verdadeiros ciclos reprodutivos. Começando pelas
aves silvestres a época reprodutiva é controlada por factores
ambientais dos quais a luminosidade, duração do dia e temperatura
parecem ser os mais importantes. Contudo também a disponibilidade
de alimento, material e local para o ninho têm influência
neste processo.
Dum modo geral em cativeiro a
disponibilidade de ninho e alimento pouco influencia as aves,
excepto aquelas que necessitam de alimento especial durante
a criação como alguns granívoros e a maioria dos insectívoros,
pelo que os factores que mais nos intressam são a intensidade
e duração da luz e, em parte, a temperatura.
Num viveiro exterior tudo ocorre
da maneira mais natural possível, os dias variam em duração
e as condições ambientais também pelo que geralmente o ciclo
é regular e são as próprias aves que decidem quando iniciar
a reprodução. Não sucede o mesmo para aquelas espécies que
criamos, por diversos motivos, em gaiolas quase sempre interiores.
Neste caso temos de ter especial atenção de modo a que durante
o ano existam as variações ambientais que sucedem no exterior.
Manter as aves nas mesmas condições durante todo o ano é um
GRANDE ERRO, e corremos o risco de "baralhar" irremediavelmente
o seu ciclo de vida. A teoria diz que é possível manter uma
ave em reprodução todo o ano, algumas fazem isso mesmo como
os mandarins e bengalins, mas não devemos forçar as outras
espécies sazonais a fazê-lo pois estamos a pôr em risco o
seu bem estar e longevidade. Não é que não seja possível obter
bons resultados usando condições controladas, o factor disto
mesmo é que a maioria dos grandes criadoures usam salas com
ambientes totalmente controlados.
Podemos assim resumir o ciclo
anual de um espécie sazonal em 4 fases, partindo da época
de repouso:
1ª Fase - Repouso
Nesta altura as aves já fizeram
a muda e tratam de se preparar para o Inverno. Ocorre naturalmente
de Outubro a fins de Janeiro, quando ainda há inicialmente
facilidade em encontrar alimento nas plantas que florescem
nesta época como as urtigas (um petisco para a maioria das
aves). As aves jovens estão geralmente em bandos, por vezes
mistos a que os adultos se vão juntando progressivamente.
Quando chega o fim de Janeiro começam a formar-se grupos mais
pequenos, em parte pelas dificuldaddes crescentes em obter
alimento.
2ª Fase - Acasalamento
Em Fevereiro ou Março formam-se
os primeiros casais dentro dos bandos, algumas aves fazem
uma nova muda pré-nupcial sendo nesta altura que surgem as
plumagens mais vistosas. O casal formado, resultado da crescente
abundância de alimento e duração do dia vai começando a afastar-se
do grupo na procura de locais para nidificação. Quando mantemos
as aves em viveiros em pequenos grupos podemos ir observando
o comportamento destas pois vamos detectar os casais à medida
que estes se formam. Devemos sempre que possível manter os
casais que as aves formaram por si (a não ser em casos de
selecção), os resultados são quase sempre melhores. Conforme
notamos que o macho canta perto de uma fêmea ou lhe dá comida
(as anilhas de cor ajudam muito...) retiraremos esse casal
para a gaiola de criação quando chegar o princípio de Março,
ou até mesmo um pouco antes.
3ª Fase - Reprodução
Dependendo da espécies esta inicia-se
mais cedo ou mais tarde, mas geralmente em fins de Março princípios
de Abril existem já alguns casais mais adiantados a construir
ninhos ou mesmo com ovos. O número de posturas varia mas este
perido pode durar até fins de Agosto em alguns casos. Já vi
pintassilgos com crias no princípio de Setembro. Três posturas
é o normal, para algumas espécies apenas duas das quais a
segunda é geralmente a melhor.
É uma altura em que o alimento
(tanto vegetal como animal) abunda pelo que não é difícil
suportar as crias e o degaste da reprodução. Com o chegar
dos meses de verão vai secando a vegetação e com ela as sementes
até aqui abundantes e os insectos. É escusado tentarmos prolongar
este periodo artificialmente, quem o quiser fazer é preferível
tentar adiantar em 15 dias ou um pouco mais o início da reprodução
do que prolongá-lo, pois assim dará mais tempo às aves de
recuperarem até à próxima época.
4ª Fase - Muda de Outono
Ocorre por volta de Setembro
e é quanto a mim a fase mais desgastante e importante do ciclo
e uma que muitas vezes descuidamos. Senão vejamos, nesta altura
a ave passou por mais de 5 meses de desgaste reprodutivo,
extremamente exigente, em condições de pouco (ou nenhum...)
exercício físico, com uma alimentação demasiado rica e as
suas reservas estão debilitadas. Mesmo assim tem de substituir
todas as penas, formando novos tecidos. É muito importante
que possa ter exercício, de preferência acabando a reprodução
e passando as aves para um viveiro exterior ainda em Agosto
de modo a recuperar alguma forma física antes da muda. Podem
ter a certeza que uma ave que tenha uma má muda muito dificilmente
terá bons resultados produtivos na época seguinte. Em relação
às crias esta é a primeira vez que irão sofrer um grande desgaste
por isso devemos ter em atenção os mesmo cuidados que para
os reprodutores, dando um alimentação e suplementações adequadas
e SEMPRE muito espaço para exercício.
As aves adultas passam geralmente
esta fase (melhor ou pior) mas algumas crias podem mesmo morrer.
Em liberdade dispõe de algum alimento com a vinda das primeiras
chuvas outonais portanto em cativeiro devemos fazer o mesmo
e melhorar a sua dieta nesta altura dando mais sementes oleaginosas
(o que numa gaiola é desaconselhável) e até mesmo aumentar
um pouco de papa de ovo, o que também faz com que não se desabituem
dela. Verduras como o espinafre e agrião são óptimas nesta
fase e todas as sementes que favoreçam a plumagem (linhaça,
niger, papoila) também. Esta altura envolve sobretudo a criação
de novos tecidos (penas) daí que a proteína seja muito importante
na dieta, não deverá ser tão rica como na reprodução, mas
as aves necessitam de uma fonte de proteína suplementar, pessoalmente
acho esta a melhor altura para juntar às papas de ovo óleos
(girassol ou soja) para cobrir as necessidades em ácidos gordos
essenciais. A soja germinada também é um bom alimento para
esta fase.
Uma ave em muda deve ser incomodada
o mínimo possível pois é geralmente "rabugenta",
(uma consequência da vida em grupo nesta altura?!) devemos
ter poucas aves por gaiola ou, se possível, juntar alguns
casais num viveiro para que formem um pequeno "bando
de Inverno".
Um ave que passe por uma boa
muda rapidamente se mostrará activa e confiante e logo notaremos
isso.
Fisiologia reprodutora das aves
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Sem querer parecer uma lição
de anatomia julgo que todos deveremos ter alguns conhecimentos
básicos sobre a anatomia e fisiologia das aves com que trabalhamos
de modo a que as compreendamos melhor.
Como sabemos os sistemas reprodutores
de machos e fêmeas são distintos e é particularmente importante
conhecermos o da fêmea visto o macho raramente levantar problemas
a este nível. O sistema reprodutivo do macho é semelhante
na maioria dos animais, no caso das aves os testículos estão
colocados na cavidade abdominal e ligados à cloaca que funciona
como orgão copulatório e excretor em ambos os sexos. O funcionamento
hormonal do ciclo baseia-se na quantidade de luz recebida
pela glándula pineal através dos olhos. Na verdade o ciclo
em si funciona ao contrário do que se pensa, não é o aumento
da luz diária que inicia a reprodução mas sim a dimunuição
da escuridão nocturna, isto porque o ciclo é iniciado pela
baixa na concentração de uma hormona secretada pela epífise
sobre comando da glândula pineal. Esta hormona é secretada
de noite e quanto maior for este periodo mais quantidade é
produzida, quando chegamos à altura da primavera existe menos
tempo de escuridão e por isso o nível baixa.
Isto é o sinal para que se inicia
a secreção FSH e LH pelo hipotálamo que vão estimular o aparelho
reprodutivo. Uma vez em funcionamento a postura do ovo e reflexo
de choco (na fêmea) são desencadeados por picos hormonais
de LH resultantes do próprio processo de produção do ovo.
Épor isto que é mais difícil fazer as fêmeas chocar ovos como
"amas" quando não estão a pôr, pois nos machos é
a visualização do ovo no ninho que desencadeia o processo
de choco.
Em construção
Aves territoriais
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Uma ave territorial tende a defender
o seu ninho marcando uma zona onde não admite intrusos. Nesta
categoria incluem-se quase todos os fringilídeos e alguns
exóticos como o cantor de cuba (dois machos podem matar-se),bengalim
mosqueado (contra outras aves vermelhas), degolado (embora
só proteja o ninho) e mais alguns.
Estas espécies devem ser mantidas
com precaução em viveiros comunitários, de grande tamanho
mas sempre com poucas aves semelhantes. Os fringilídeos preferem
estar numa gaiola reservada com apenas um casal por gaiola.
A territorialidade surge com o aproximar da época reprodutiva
e é o indicador mais seguro da intenção de procriar. Para
estas aves a agressividade para com os rivais pode mesmo ser
uma técnica que podemos usar a nosso favor, pois faz parte
do método natural de acasalamento. Desde que estejamos atentos
ao que se vai passando e possamos interferir caso "passem
das marcas" as pequenas lutas servem para determinar
a hierarquia social de cada um e aumentam o desejo de reprodução
pela competição por parceiro e local de nidificação (visto
que o alimento não é limitante).
Tipo de ninhos
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Existem possivelmente tantos
tipos de ninhos quanto espécies. Em cativeiro usamos essencialmente
3 tipos de ninhos, podendo estes variar em tamanho mas mantendo
uma forma básica idêntica. Assim temos ninhos em taça, de
verga ou corda, que são os mais usados para os fringilídeos.
Adiante-se que de todas as aves nativas, só as carriças e
o chapim rabilongo constróem ninhos fechados, a grande maioria
usa ninhos deste tipo. São taças que podem variar em diâmetro
e profundidade. Os canários gostam de ninhos largos e espaçosos
enquanto os pintassilgos preferem taças mais apertadas e fundas.
Embora quase todas estas aves possam construir um ninho livre
aceitam facilmente estas estruturas como apoio. Devemos ter
cuidado com estes ninhos pois embora a maioria das espécies
os use sujam-se facilmente e, em determindas situaçãoes as
crias e ovos podem mesmo cair. Também são desaconselhados
para situações de viveiro pois as outras aves podem facilmente
ver os ovos e perturbar o casal em criação.
Os ninhos de cesto, em diversas
formas e tamanhos, são usados por espécies pequenas de estrildídeos.
São reservados e escondem-se bem entre a vegetação o que os
torna ideais para espécies tímidas como o peito de fogo ou
o peito celeste. O acesso ao ninho é difícil e pode mesmo
tornar-se frustante para o criador tentar ver as crias ou
ovos dificultando em muito as tarefas de anilhagem e limpeza.
Uma colher pode ajudar se necessário, mas temos sempre de
ter muito cuidado a mexer nos ninhos destas espécies. Embora
não encoraje muito o seu uso, colocando-os em sítios descobertos,
tenho vários no viveiro dos estrildídeos só para fazer número
e proporcionar às aves uma grande escolha. Os guardas-marinhos
usam sempre estes ninhos.
Os ninhos de madeira podem ser
de dois tipos, ou troncos escavados ou então, os mais comuns,
caixas de madeira. A grande maioria das aves exóticas que
criamos nidificam em cavidades nas árvores sendo os melhores
exemplos disso os diamantes australianos e os periquitos-ondulados.
Facilmente aceitam estas caixas numa gaiola com a vantagem
de que, podendo ser colocadas por fora desta, a sua inspecção
e manutenção é extremamente fácil. Eu gosto de ter as caixas
por fora, embora diversos criadores apontem com alguma lógica
que estando colocada dentro da gaiola a caixa ninho proporciona
mais segurança e confiança às aves. Contudo para ver o interior
é necessário perturbar as aves. Existe um modelo de gaiola
do qual apenas vi fotografias em que o ninho é montado numa
placa que pode deslizar para fora da gaiola. Parece ser muito
eficiente e uma parte integrante de diversos modelos de gaiolas
usados sobretudo no norte da Europa, formando baterias exrtemamente
profissionais. Claro que com o tempo poderemos possivelmente
atingir tais necessidades e investir nestes equipamentos,
mas a avicultura é essencialmente, e para a maioria de nós,
uma actividade amadora e não pretendo mais do que transmitir
alguns conhecimentos básicos, pelo que é perfeitamente suficiente
o esquema descrito acima. Existem caixas de plástico muito
práticas que podem ser totalmente desmontadas e lavadas (um
problema da madeira) e que uso nas gaiolas dos Diamantes-Gould
e outros. São mais caras, mas devido ao tamanho e algumas
características prefiro-as para as gaiolas em que tenho estas
espécies.
Os troncos escavados são um exclente
alternativa para espécies mais difíceis de convencer e podem
mesmo fazer a diferença, em especial num viveiro. Têm o grande
problema de serem geramente pesados e difíceis de manusear,
não terem muitas vezes acesso para o interior e a limpeza
ser muito complicada. Mesmo assim para quem tenha tempo e
gosto por estas coisas podemos mesmo fazê-los a partir de
madeira morta, bem lavada e seca no forno durante 30min. Basta
cortar um rodela numa das pontas que servirá de tampa e escavar
o interior com um berbequim e os acessórios necessários. Troncos
de várias dimensões colocados num viveiro do modo o mais natural
possível são um exclente ninho para espécies complicadas.
Encontraremos decerto outros
tipos no mercado que podemos tentar por vezes até com bons
resultados. Acreditem que as dimensões podem fazer mais diferença
do que se pensa e as caixas que encontramos no mercado raramente
são adequadas para uma ninhada de bom tamanho. Para as gaiolas
dos mandarins e bengalins preferi desenhar e construir os
ninhos de modo a que ocupassem a medida que eu queria. São
opções que podemos fazer e que além do mais, tornam muito
mais baratos estes acessórios.
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